Revista Brasileiros . Edição 39 . Outubro/2010 > Cultura
Eu, quem? Um ensaio sobre o retrato
Exposição Estúdio de Arte Irmãos Vargas traz o olhar pioneiro dos peruanos. Idealizador da mostra, o escritor e curador de fotografia da Pinacoteca reflete sobre a grande arte de Carlos e Miguel
por Diógenes Moura
Quem de vocês sabe por que o fotógrafo tenta olhar o outro assim, desse jeito, duplo, vestido e sem roupa? Quem de vocês sabe quando esse outro estará realmente nu diante da visão representativa que cada fotógrafo leva para o retrato? O que cada um deles, ou de nós (já que o retrato pode ser visto, num piscar de olhos, nas ruas quando cruzamos com o próximo transeunte) pretende quando coloca o indivíduo por dentro de uma fotografia: ultrapassar os limites da fragilidade? Mudar um pensamento? O que será que o fotógrafo reinventa em cada retrato? Há neles um autorretrato? Quem primeiro se coloca diante do outro: a câmera ou olhar? Se a fotografia é a busca pela liberdade e se
estamos falando em liberdade, quem é estrangeiro diante de um retrato: eu ou você? Até quando precisamos da imagem do outro para “entender” a nossa própria iconografia? O que um retrato guarda e o que ele leva embora: os rastros de uma existência? Os ruídos dos tempos? Se você cola um retrato sorrindo em uma lata de sopa, o que ele quer dizer: um modelo de pensamento ou uma forma inventada para eternizar o que nunca será eterno? Se você coloca um retrato em um álbum de família, poderemos até pensar, existo, e esse será um retrato para a próxima memória. Qual a verdadeira história que um retrato eterniza? Por que o fotógrafo nos olha assim? Um retrato representa para a fotografia o que queremos ser para nós mesmos? O que poderemos representar diante de um retrato: uma figura em busca de uma frágil posteridade ou a recordação de um outro mesmo eu?