Na tarde do dia 21 de novembro, o grupo de fotógrafos representante da Rede de Produtores Culturais da Fotografia na Bahia reuniu-se com o Secretário de Cultura do Estado Albino Rubim para entregar uma carta elaborada pelo coletivo reivindicando políticas públicas voltadas para a fotografia.
Dentre as demandas elencadas pelos fotógrafos, está a criação de um Núcleo de Fotografia na Secult. O documento é fruto do I Encontro Baiano da Rede que foi realizado em agosto através da parceria entre a Instituto Casa da Photographia, a Cipó – Comunicação Interativa, o Fotobahia, o Labfoto /Ufba, o Panorama Fotográfico e o Salvador Foto Clube.
Essa reunião marca o movimento de articulação dos fotógrafos de Salvador com o objetivo de reconquistar o espaço da fotografia no campo das políticas públicas.
CARTA DE ONDINA
Salvador, 13 de novembro de 2012
Excelentíssimo Senhor Antônio Albino Canelas Rubin
Secretário de Cultura do Estado da Bahia
Muito embora a fotografia se constitua em uma das expressões mais significativas de nossa época, portadora de novas visualidades e parte integrante da nossa cultura, constatamos que as atuais condições para o exercício desta forma de criação enfrenta um tempo adverso no nosso Estado.
Tal constatação é fruto das discussões que ocorreram durante o 1o Encontro Baiano de Produtores Culturais da Fotografia, realizado no dia 11 de agosto de 2012, no Campus de Ondina da UFBA. Reunidos em Grupos de Trabalho temáticos, movidos pelo propósito de analisar e fazer proposições que venham ao encontro do fortalecimento da fotografia baiana e de uma maior participação na vida cultural do Estado, como um direito assegurado no artigo 4º do Capítulo II da Lei Orgânica da Cultura da Bahia, 83 participantes reconheceram, de forma unânime, a necessidade de implementação, na estrutura da SECULT, de um núcleo que dialogue diretamente com os fotógrafos do nosso Estado, a exemplo do bem-sucedido, entretanto extinto, Núcleo de Fotografia.
Entendemos que o restabelecimento dessa interlocução por meio de um Núcleo de Fotografia é indispensável para que, gradualmente, o Estado possa atender às principais demandas da nossa área, hoje sistematizadas no documento anexo a esta carta, que é resultado do referido Encontro. Reconhecemos que a Secult e a Funceb, por meio das ações vinculadas à Coordenação de Artes Visuais, vêm se esforçando para contemplar a cultura fotográfica, como é o caso do Prêmio Pierre Verger de Fotografia. Tais ações, ainda que importantes, são ainda insuficientes para uma retomada da fotografia em nosso Estado.
É inegável que a fotografia baiana viveu momentos de vigor e evidência. As suas realizações enriqueceram a vida cultural do Estado, documentadas em exposições coletivas, oficinas de criação, edição de catálogos, seminários e participação destacada nos encontros nacionais promovidos pelo Instituto Nacional de Fotografia da FUNARTE, isso no final dos anos setenta a meados dos anos oitenta, graças à atuação do FOTOBAHIA. Em 1985, fruto deste movimento, foi criado o Núcleo de Fotografia da Fundação Cultural do Estado da Bahia, dentro da Diretoria da Imagem e do Som, quando foram definidas diretrizes para o desenvolvimento de políticas culturais para a linguagem e realizada a memorável Bienal da Fotografia no Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM – BA), referência de metodologia participativa, estímulo a processos criativos inovadores e ao fortalecimento da produção coletiva.
Nas décadas seguintes, foi observada uma descontinuidade nestas políticas originais do Núcleo de Fotografia e, depois, como agravante máximo, aconteceu sua desativação.
Merecem destaque realizações posteriores por parte dos produtores baianos: a fundação do Instituto Casa da Photographia, responsável pelo festival anual A Gosto da Fotografia, a criação do Salvador Foto Clube e outras associações, as atividades do Labfoto, ligado à Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia, a edição do livro A Fotografia na Bahia 1839-2006, dentre outras iniciativas.
Por todas estas razões, nós, fotógrafos baianos, não podemos nos contentar com o atual trato dispensado à fotografia, com a perda de espaços importantes para a continuidade dessas ações que resultaram em grandes frutos. Não aceitamos este futuro obscuro para a fotografia baiana, pois não é cabível condená-la a viver à margem dos processos culturais, sem um abrigo próprio no circuito cultural para divulgar e democratizar a produção local e nacional e ao largo das políticas públicas.
Tanto assim, que não reina absoluto silêncio no nosso campo. Apesar das condições desfavoráveis, dos espaços cada vez mais exíguos, do reduzido apoio institucional, recusamos a condição de espectadores de nossa própria realidade, e, graças a esta teimosia, a fotografia baiana sobrevive.
Certos da favorável acolhida destes pleitos, somos, atenciosamente,
Instituto Casa da Photographia
Cipó – Comunicação Interativa
Fotobahia
Labfoto – Facom/Ufba
Panorama Fotográfico
Salvador Foto Clube
DIRETRIZES PARA A PRODUÇÃO CULTURAL DA FOTOGRAFIA NA BAHIA
Parte integrante da Carta de Ondina, de 13 de Novembro de 2012, este documento apresenta as diretrizes que justificam a criação de um Núcleo de Fotografia na SECULT, conforme desejo manifestado pelos participantes do 1o Encontro Baiano de Produtores Culturais da Fotografia, evento que resultou de uma inédita ação coletiva entre Casa da Photographia, Cipó-Comunicação Interativa, Fotobahia, Labfoto, Panorama Fotográfico e Salvador Foto Clube, agentes que contribuem ativamente para a produção e difusão da fotografia em nosso estado.
As propostas destacadas a seguir resultam da ação de Grupos de Trabalho que discutiram temas essenciais ao campo fotográfico:
• GT1 – Memória
• GT2 – Formação
• GT3 – Difusão
• GT4 – Políticas Públicas
• GT5 – Projetos Socioculturais
GT1 – MEMÓRIA
• Criação de um Centro de Referência – Memorial da Fotografia Baiana, com o propósito de implementação de políticas públicas voltadas para a pesquisa, mapeamento, documentação, aquisição de acervos e preservação da memória da produção fotográfica da Bahia;
• Lançamento de editais específicos para a produção de pesquisa, preservação e ampliação dos acervos públicos e privados da fotografia baiana;
GT2 – FORMAÇÃO
• Implantação de núcleos públicos para a formação e qualificação profissional na área da fotografia;
• Formulação de editais que incentivem a consolidação de uma agenda estadual de Congressos, Seminários, Debates e Encontros focados na reflexão teórico-crítica e histórica sobre a fotografia;
GT3 – DIFUSÃO
• Criação e consolidação de um evento que promova o intercâmbio entre a cultura fotográfica local nacional, e internacional;
• Lançamento de editais públicos que fomente a produção editorial de livros, revistas, sítios virtuais entre outras publicações associadas ao fazer fotográfico;
• Incentivo a programas e/ou projetos de circulação da produção crítica e discursiva sobre fotografia;
GT4 – POLÍTICAS PÚBLICAS
• Criação de um Núcleo de Fotografia que garanta uma interlocução e um espaço de desenvolvimento e garantia de políticas específicas, dentro da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia.
• Criação de mecanismos que garantam o intercâmbio e a interiorização da produção fotográfica do Estado
• Requalificação dos espaços culturais já existentes, bem como criação de novos (quando necessários), de modo a conferir um novo caráter, de multiuso, buscando contemplar a realização de projetos de pesquisa e de formação profissional – cursos e oficinas -, que abranjam os mais diversos setores da sociedade;
GT5 – PROJETOS SOCIOCULTURAIS
• Criação de processos de valorização, reconhecimento, profissionalização assim como editais específicos para jovens produtores oriundos de processos de educação informal;
• Incentivo à integração de fotógrafos locais e às pesquisas de campo com ênfase em grupos culturais diferenciados, promovendo intercâmbio entre projetos sociais e fotógrafos de diversas regiões do Estado;
Realização
Instituto Casa da Photographia
Cipó – Comunicação Interativa
Fotobahia
Labfoto – Facom/Ufba
Panorama Fotográfico
Salvador Foto Clube